Recife. [[Ponte Buarque de Macedo|Ponte Buarque de Macedo]].
Eu, indo em direção à casa do Agra,
Assombrado com a minha própria sombra magra,
Pensava no [[Destino|Destino]], e tinha medo!Lembro-me bem. A ponte era comprida,
E a [[minha sombra|Minha sombra]] enorme enchia a ponte,
Como uma pele de rinoceronte
Estendida por toda a minha [[vida|Vida]]!Dedos denunciadores escreviam
Na lúgubre extensão da rua preta
Todo o destino negro do planeta,
Onde minhas [[moléculas|Moléculas]] sofriam.
Um necrófilo mau forçava as lousas
E eu — coetâneo do horrendo cataclismo —
Era puxado para aquele [[abismo|Abismo]]
No redemoinho universal das cousas!A vida vem do éter que se condensa
Mas o que mais no [[Cosmos|Cosmos]] me entusiasma
É a esfera microscópica do plasma
Fazer a luz do [[cérebro|Cérebro]] que pensa.Rola-me na cabeça o cérebro oco.
Por ventura, meu Deus, estarei louco?!
Daqui por diante não farei mais versos.
//FIM... [[voltar para o início?|Entrada]]//A passagem dos [[séculos|Séculos]] me assombra.
Para onde irá correndo minha sombra
Nesse cavalo de eletricidade?!
Caminho, e a mim pergunto, na vertigem:
— [[Quem sou?|Quem sou]] Para onde vou? Qual minha origem?
E parece-me um sonho a realidade.Eu sou aquele que ficou sozinho
Cantando sobre os ossos do caminho
A poesia de tudo quanto é [[morto!|Morto]]Morto! Consciência quieta haja o assassino
Que me acabou, dando-me ao corpo vão
Esta volúpia de ficar no chão
Fruindo na tabidez sabor divino!
//FIM... [[voltar para o início?|Entrada]]//Negro e sem fim é esse em que te mergulhas
lugar do Cosmos, onde a [[dor|Dor]] infrene
É feita como é feito o querosene
Nos recôncavos úmidos das hulhas!Chama-se a Dor, e quando passa, enluta
E todo mundo que por ela passa
Há de beber a taça da cicuta
E há de beber até o fim da taça!
Há de beber, enxuto o olhar, enxuta
A face, e o travo há de sentir, e a ameaça
Amarga dessa desgraçada fruta
Que é a fruta amargosa da [[Desgraça!|Desgraça]]Punjam-no os [[vermes|Vermes]] da Desgraça, assomem
Descrenças, surjam tédios na Descrença,
Luta, e morrem os vermes que o consomem,
Vence, e por fim, nada há que o abata e o vença!Fator universal do transformismo.
Filho da teleológica [[matéria|Matéria]],
Na superabundância ou na miséria,
Verme — é o seu [[nome|Nome]] obscuro de batismo.Eu, depois de morrer, depois de tanta
Tristeza, quero, em vez do nome — //Augusto//,
Possuir aí o nome dum arbusto
Qualquer ou de qualquer obscura planta!
//FIM... [[voltar para o início?|Entrada]]//Foi no horror dessa [[noite|Noite]] tão funérea
Que eu descobri, maior talvez que Vinci,
Com a força visualística do lince,
A falta de unidade na matéria!A energia monística do Mundo,
À meia-noite, penetrava fundo
No meu fenomenal [[cérebro|Cérebro]] cheio...
Era tarde! Fazia muito frio.
Na rua apenas o [[caixão|Caixão]] sombrio
Ia continuando o seu passeio!Célere ia o caixão, e, nele, inclusas,
[[Cinzas|Cinzas]], caixas cranianas, cartilagens
Oriundas, como os sonhos dos selvagens,
De aberratórias abstrações abstrusas!
Nesse caixão iam, talvez as Musas,
Talvez meu [[Pai!|Pai]] Hoffmânicas viagens
Enchiam meu encéfalo de imagens
As mais contraditórias e confusas!Revolvo as cinzas de passadas eras,
Sombrio e mudo e glacial, [[senhora|Senhora]],
Como um [[coveiro|Coveiro]] a sepultar quimeras!Não enterres, coveiro, o meu [[Passado|Passado]],
Tem pena dessas cinzas que ficaram;
Eu vivo d’essas crenças que passaram,
E quero sempre tê-las ao meu lado!És do Passado! Vieste d’alvorada
N’asa dos elfos pela [[Morte|Morte]] espalma...
Cantas... e eu ouço esta berceuse calma
Da harpa dos mundos ideais do [[Nada|Nada]]!Morte, ponto final da última cena,
Forma difusa da matéria embele,
Minha filosofia te repele,
Meu raciocínio enorme te condena!
//FIM... [[voltar para o início?|Entrada]]//Nas frias antecâmeras do Nada
O fantasma da fêmea castigada,
Passa agora ao clarão da lua acesa
E é seu corpo expiatório, alvo e desnudo
A síntese eucarística de tudo
Que não se realizou na [[Natureza!|Natureza]]Chegou a tua vez, oh! Natureza!
Eu desafio agora essa grandeza,
Perante a qual meus olhos se extasiam.
Eu desafio, desta [[cova|Cova]] escura,
No histerismo danado da tortura
Todos os [[monstros|Monstros]] que os teus peitos criam.Quem foi que viu a minha [[Dor|Dor]] chorando?!
Saio. [[Minh’alma|Alma]] sai agoniada.
Andam monstros sombrios pela estrada
E pela estrada, entre estes monstros, ando!Que dentro de minh’alma americana
Não mais palpite o coração — esta arca,
Este relógio trágico que marca
Todos os atos da tragédia humana!
Seja esta minha queixa derradeira
Cantada sobre o túmulo de Orfeu;
Seja este, enfim, o último canto meu
Por esta grande noite brasileira!
//FIM... [[voltar para o início?|Entrada]]//Surpreendo-me, [[sozinho|Sozinho]], numa cova.
Então meu desvario se renova...
Como que, abrindo todos os jazigos,
A [[Morte|Morte]], em trajes pretos e amarelos.
Levanta contra mim grandes cutelos
E as baionetas dos dragões antigos!Eu sou aquele que ficou sozinho
Cantando sobre os ossos do caminho
A poesia de tudo quanto é [[morto!|Morto]]Podre meu Pai! A [[morte|Morte]] o olhar lhe vidra.
Em seus lábios que os meus lábios osculam
Microrganismos fúnebres pululam
Numa fermentação gorda de cidra.Desci um dia ao tenebroso abismo,
Onde a [[Dúvida|Dúvida]] ergueu altar profano;
Cansado de lutar no [[mundo|Mundo]] insano
Fraco que sou volvi ao ceticismo.O mundo é um sepulcro de [[tristeza|Nome]].
Ali, por entre matas de ciprestes,
Folga a justiça e geme a [[natureza|Natureza]].Eu procurava, com uma vela acesa,
O feto original, de onde decorrem
Todas essas moléculas que morrem
Nas transubstanciações da [[Natureza|Natureza]].Vista de luto o Universo
E Deus se enlute no Céu!
Mais um [[poeta|Poeta]] que morreu,
Mais um [[coveiro|Coveiro]] do Verso!Ergue, pois poeta, um pedestal de tanta
[[Treva|Treva]] e [[dor|Dor]] tanta, e num supremo e insano
E extraordinário e grande e sobre-humano
Esforço, sobre ao pedestal, e... canta!Abro na treva os olhos quase cegos.
Que [[mão sinistra|Mão]] e desgraçada encheu
Os olhos tristes que meu [[Pai|Pai]] me deu
De alfinetes, de agulhas e de pregos?!Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
o beijo, amigo, é a véspera do [[escarro|Escarro]],
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa [[boca|Boca]] que te beija!Escarrar de um abismo noutro abismo,
Mandando ao [[Céu|Céu]] o fumo de um cigarro,
Há mais filosofia neste escarro
Do que em toda a moral do Cristianismo!Dorme a casa. O céu dorme. A árvore dorme
[[Eu|Quem sou]], somente eu, com a minha [[dor|Dor]] enorme
Os olhos ensangüento na vigília!
E observo, enquanto o horror me corta a fala
O aspecto sepulcral da austera sala
E a impassibilidade da mobília.Repuxavam-me a boca hórridos trismos
E eu sentia, afinal,
Essa [[angústia|Angústia]] alarmante
Própria da alienação raciocinante,
Cheia de ânsias e medos
Com crispações nos dedosTu que tombaste no caos extremo
Da [[Noite|Noite]] imensa do meu [[Passado|Passado]],
Sabes da angústia do torturado...
Ah! Tu bem sabes por que é que eu gemo!Senhora, eu trajo o luto do [[Passado|Passado]],
Este luto sem fim que é o meu Calvário
E ansio e choro, delirante e vário,
Sonâmbulo da dor [[angustiado|Angústia]].— Oh! [[Deus|Deus]], eu creio em ti, mas me perdoa!
Se esta dúvida cruel qual me magoa
Me torna ínfimo, desgraçado réu.
Ah, entre o medo que o meu ser aterra,
Não sei se viva pra morrer na terra,
Não sei se morra p’ra viver no [[céu!|Céu]]Gozei numa hora séculos de afagos,
Banhei-me na água de risonhos lagos,
E finalmente me cobri de flores...
Mas veio o vento que a [[Desgraça|Desgraça]] espalha
E cobriu-me com o pano da mortalha,
Que estou cosendo para os meus amores!
Desde então para cá fiquei sombrioi!
Um penetrante e corrosivo frio
Anestesiou-me a sensibilidade
E a grandes golpes arrancou as raízes
Que prendiam meus dias infelizes
A um [[sonho|Sonho]] antigo de felicidade!
Sonho, — libertação do [[homem|Homem]] cativo —
Ruptura do equilíbrio subjetivo,
Ah! foi teu beijo convulsionador
Que produziu este contraste fundo
Entre a abundância do que eu sou, no [[Mundo|Mundo]],
E o nada do meu homem interior!Quando o homem, resgatado da cegueira
Vir [[Deus|Deus]] num simples grão de argila errante,
Terá nascido nesse mesmo instante
A mineralogia derradeira!//Cometi um crime: retalhei a obra de// Augusto dos Anjos//!//
//Com as partes, criei um labirinto de poemas malditos.//
//Você ousa //[[entrar|Entrada]]//?//